Cinco anos após a Troika.

Um retrato da Realidade.


   O rendimento per capita dos portugueses subiu dos 16 mil euros, em 2011, para cerca de 21 mil em 2019. Os portugueses produziram muita riqueza em conjunto, o que parece ser um marco histórico. Na balança comercial, as exportações também verificaram um aumento de 27% entre 2011 e 2019, passando de 42 mil milhões de euros para os 57.

    Estes são o tipo de indicadores a que comentadores políticos costumam recorrer para defender a intervenção da troika como positiva. Eu, contudo, acho que deixam convenientemente alguns detalhes de lado. O rendimento per capita não é, por exemplo, o indicador mais adequado para medir a qualidade de vida das pessoas, dado que mistura aqueles que obtêm rendimentos elevados com os que recebem menos. Assim, é-nos fornecida uma imagem distorcida da realidade.


| Índice de Preços no Consumidor

   O IPC é um dos indicadores para medir a variação no nível geral de preços, medindo o custo de um cabaz fixo de bens e serviços adquiridos por um consumidor médio, num dado período, em relação ao custo para o consumidor do mesmo cabaz de bens e serviços, num dado período de referência (ano base).

   O seguinte gráfico demonstra a taxa de variação do IPC, em termos homólogos. Podemos registar entre 2015 e 2018, se verificou um aumento de preço nos bens essenciais adquiridos pelo consumidor médio português em relação ao mês correspondente do ano prévio.

   O que significa isto? Significa que os Portugueses têm vindo a gastar mais para obter exatamente o mesmo cabaz de bens e serviços em relação a períodos anteriores. Verifica-se a inflação a tomar efeito sobre o rendimento da população.

 

  Portanto, embora se vejam boas notícias, como o aumento do salário mínimo, que evoluiu de 565€ (2011) para 700€ (2019), é importante contemplar sempre a inflação, pois ela determina o que a população realmente consegue adquirir e, consequentemente, a qualidade de vida.   

   Paralelamente, em 2019, os empregados per capita em Portugal recebiam, em média, aproximadamente 11000€ pelo trabalho que forneciam ao mercado dos fatores de produção. Enquanto que este valor representa progresso, verificando-se um aumento de 13,9% em relação a 2010, Portugal continua abaixo da média da UE27 (14832,3) e da ZE19 (15916,4).


| Índice de Gini

   O Índice de Gini é um indicador que mede o nível de irregularidade na distribuição do rendimento pelos habitantes de um Estado, numa escala de 0 (igualdade total na distribuição do rendimento; todos os indivíduos têm igual rendimento) a 100 (completa desigualdade; todo o rendimento concentrado num só indivíduo).

   É costume um Governo recorrer ao IG antes de avançar com políticas económicas que visem alcançar a justiça social. Contudo, é interessante verificar que nos anos em que Portugal não se via afetado pela crise da troika, quando tinha margem de manobra, pouco fez para solucionar este problema, não implementando, entre vários exemplos, impostos progressivos atempadamente (só em 2009 se via tal proposta fiscal). 

   Em relação aos países da UE27, Portugal apresenta maior assimetria na distribuição de rendimentos latentes à sociedade. O país tem vindo a reduzir esta assimetria, pelo que na última década aproximou-se à média europeia. Estes valores, contudo, continuam a apresentar um perigo para o bem-estar da sociedade portuguesa pois as assimetrias são potencialmente geradores de exclusão, pobreza e grandes tensões sociais, sendo então necessário reforçar uma maior equidade. 

Joana Matos
Concurso EUStory 2021 - XIV Edição

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