ORIGENS DA CRISE

A crise financeira de 2008.


   Historicamente, a aquisição de uma hipoteca era consideravelmente difícil se o indivíduo apresentasse uma má pontuação de crédito ou tivesse falta de um emprego estável. Os bancos simplesmente não se dispunham a correr o risco de conceder um empréstimo se o individuo mostrasse um perfil que não conseguiria pagar a dívida na sua totalidade (1).

   No começo do século XXI este cuidado foi sendo progressivamente abandonado. Diversos bancos e investidores, americanos e estrangeiros, começaram a depositar bilhões de dólares no mercado imobiliário americano, pois eram considerados investimentos mais seguros e com alto retorno. Estes julgavam que poderiam ter maior lucro com os juros recebidos pelas hipotecas dos imóveis do que ao investir em ativos como os títulos de tesouro americano, que, na época, pagavam baixíssimos juros.

   Os grandes investidores mundiais não compravam hipotecas individuais, mas sim ações de milhares de hipotecas acumuladas em algo chamado "títulos lastreados em hipotecas", que pagavam um retorno mais alto do que outros investimentos. Os "títulos lastreados em hipotecas" aparentavam ser uma aposta bastante segura visto que os preços dos imóveis subiam aceleradamente e, simultaneamente, agências de classificação de crédito reafirmavam a segurança destes investimentos, qualificando-os como investimentos "AAA", a mais alta classificação.

   Os investidores viam-se desesperados para adquirir mais destes títulos, portanto os credores fizeram o possível para criar mais hipotecas levando-os a rebaixar os requisitos para adquirir empréstimos, fornecendo-os a pessoas com baixos rendimentos, empregos instáveis, e má pontuação de crédito. Estas foram chamadas de "hipotecas subprime". Algumas instituições até vieram a usar práticas de empréstimo predatórias para produzir hipotecas, oferecendo empréstimos sem verificar o rendimento do indivíduo ou aplicando taxas de juro ajustáveis em que os proprietários eram capazes de pagar inicialmente mas logo torva-se impossível (2).

   As práticas associadas às "hipotecas subprime" eram novas no mercado, entretanto as agências de classificação de crédito continuavam a afirmar que investir em dívidas hipotecárias era uma aposta segura, baseando-se no histórico prévio destas. Isto foi de facto um equívoco pois, progressivamente, este mercado perdia a sua segurança, mas os investidores confiavam nas classificações, somente acelerando a quantidade de capital aplicado.

   A facilidade de acesso ao crédito por parte dos proprietários e o anseio de produzir mais hipotecas por parte dos investidores levou o preço das casas a subir vertiginosamente, algo que fez deste mercado uma aposta ainda mais atraente. No pior dos casos, pensavam, o proprietário não paga o empréstimo e a casa era vendida por um preço muito maior do que pelo qual foi comprada.

   A combinação disto tudo ficou conhecida como "bolha imobiliária", uma rápida subida dos preços das casas incentivada por decisões irracionais dos bancos e investidores. Como é tendência com bolhas especulativas, esta rebentou. Os indivíduos deixaram de conseguir pagar pelas suas caríssimas casas, levando mais imóveis a entrarem no mercado à venda. O número de compradores com capacidade de adquirir casas pelo preço inflacionado, porém, reduziu drasticamente. Logo, com a oferta elevada e a procura escassa, deu-se o colapso dos preços.

   Enquanto o valor dos imóveis encolhia bruscamente, inúmeros proprietários viam-se a pagar hipotecas excessivamente mais altas do que o valor real da casa que detinham, consequentemente diversos pararam de pagar, conduzindo a um aumento da quantidade de casas no mercado, acelerando a quebra dos preços.

   Durante este processo, grandes instituições financeiras e investidores deixaram de comprar as "hipotecas subprime", e os credores ficaram presos aos empréstimos não pagos. Além disto, havia ainda, para amplificar o dano, os chamados "swaps de inadimplência de crédito", correspondentes a derivados desregulados pelo governo e vendidos por grandes instituições financeiras, que funcionavam como uma espécie de seguro para o risco de ter as hipotecas não pagas. Contudo, quando o mercado começou a colapsar, as seguradoras que emitiam estes 'swaps', sendo o melhor exemplo a AIG, não detinham de capital para cumprir o contrato.

   Esta complicada teia de riscos, investimentos e responsabilidades culminou num efeito dominó, e quando instituições como a Lehman Brothers, um banco too big too fail, abriram falência, todo o mercado financeiro implodiu (3).

   Os investidores entraram em pânico, negociações no mercado de crédito congelou e o mercado de ações quebrou. A economia americana subitamente viu-se numa recessão desastrosa. Os Estados Unidos, porém, não seriam os únicos a viver os efeitos da crise...

(1) The Economist, The origins of the financial crisis, Crash Course, 7 September 2013.

(2) Ibidem.
(3) Ibidem.


Joana Matos
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