ENQUADRAMENTO GERAL

1986, um ano marcante.


Primeiro-ministro Mário Soares a assinar o tratado de adesão à CEE (12 de junho, 1985).
Primeiro-ministro Mário Soares a assinar o tratado de adesão à CEE (12 de junho, 1985).

   Este ano marca a adesão de Portugal, juntamente com Espanha, nosso país irmão e principal parceiro económico, à CEE. Como resultado deste ato, a qualidade de vida dos Portugueses melhorou significativamente. Na década de 90, a economia portuguesa prosperou e pensava-se que as aspirações da Revolução do 25 de abril estavam finalmente em marcha. Recorrendo às palavras do nosso atual presidente da República:

"Naquela altura, nós achávamos que estávamos a fazer o país de novo. Ia ser completamente diferente. Não tinha nada a haver com o Passado"(1)

- Marcelo Rebelo Sousa, em "Testemunhos do Constituintes", 2015.

   Embora é certo que houve uma melhoria da qualidade de vida da generalidade dos Portugueses, o sonho de Abril - de uma sociedade mais justa, sem desigualdade social, mais igualitária, que fornecesse mais oportunidades às pessoas -, ficou aquém das expetativas.

(1) Depoimento de Marcelo Rebelo de Sousa, cit­ado no vídeo Testemunho dos Constituintes, em "Abril no Parlamento: Memórias da Constituinte", do Parlamento, 2015.


Uma chegada atribulada ao século XXI.


    A entrar no século XXI, Portugal enfrentava uma conjuntura difícil. A adesão de novos Estados-membros à UE, como resultado do alargamento de 2004, trouxe a Portugal a possibilidade de aumentar as suas exportações e de participar num mercado maior, mas também trouxe desvantagens. 

   Setores como o agrícola e o das pescas, juntamente com o industrial, embora recebam investimentos comunitários, não suportaram a concorrência europeia e, como tal, sofreram um declínio bruto. Os novos membros possuíam mão-de-obra qualificada, disponível a salários mais baixos, enquanto apresentando melhores índices de produtividade de trabalho e maior proximidade do centro económico da Europa(2). Tornava-se então mais difícil captar investimentos estrangeiros face à competitividade que os nossos parceiros europeus demonstravam. Simultaneamente, assistiu-se à redução da intensidades dos apoios comunitários(3)

  Portanto, embora do maior alargamento da UE, até à data, tenham surgido consequência positivas, como a oportunidade de aumentar o investimento português nestes países que demonstravam economias emergentes, uma má distribuição de capital e pobre gestão dos recursos humanos acabaram por originar o défice de crescimento. Assim, 2004 acaba por ser lembrado como um ano decisivo para o aumento do caráter periférico de Portugal. 


"Com mais capital, esperava-se que as empresas mais produtivas em Portugal pudessem crescer e atacar mercados internacionais. [...] Ao invés, o os setores que mais usaram este capital foram o imobiliário, o comércio grossista e retalhista e os serviços pessoais. Todos setores não transacionáveis, virados para o mercado interno."(4)

                                                            - Ricardo Reis, professor de Economia em London School of Economics (2013).

(2) LOBATO, Cláudia & OLIVEIRA, Simone (2016). R@io-x 11 - Geografia A - 11.º Ano. Areal Editores. Pp. 242-248.

(3) COUTO, Célia Pinto & ROSAS, Maria Antónia Monterroso (2019). Um novo Tempo da História. Porto Editora. Parte 3, pp. 122-128.

(4) REIS, Ricardo (2014). "O misterioso défice de crescimento", em XXI, Ter Opinião - Os Caminhos da Europa, Fundação Francisco Manuel dos Santos.


| Crise dos mercados financeiros de 2008.

   Entretanto, em 2008, dá-se a quebra económica norte-americana que provoca uma recessão a nível mundial, sendo que a economia portuguesa não tardou a sofrer os efeitos da crise dos mercados financeiros. 

 Neste contexto a economia portuguesa evolui desfavoravelmente. Os produtos portugueses perdem progressivamente a sua quota no mercado. Encerram empresas que não resistem à crise enquanto as transnacionais deslocalizam as suas filiais. O desemprego acelera-se. O crescimento anual médio do PIB regride e cessa a convergência nos níveis de vida e bem-estar com os outros parceiros da União. O país mostra-se pouco concorrencial na oferta de bens e a balança comercial mantém-se deficitária. A divida pública, impulsionada pelo acréscimo das despesas e pela acumulação dos défices orçamentais, conhece um aumento explosivo.

   Estes problemas de cariz economico foram ainda acompanhados por uma crise política interna que fez baixar bruscamente a confiança dos mercados financeiros em Portugal. Assim, a economia sofreu um golpe duro com as tendências dos mercados que desconfiaram de Portugal. O Governo, deixado sem alternativas, a 6 de abril de 2011, resolve recorrer à solicitação de um resgate financeiro de 78 mil milhões de euros, financiado pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. 

   Esta ajuda, porém, não veio sem uma contraparte. Portugal teria que cumprir um rigoroso plano de recuperação económico e caracterizado por uma maior austeridade que as propostas chumbadas no Parlamento. No processo, deu-se a degradação da qualidade de vida dos Portugueses e o desemprego atingiu níveis nunca antes vistos.

   Irei agora proceder a uma análise mais detalhada do que aconteceu, começando pela origem da crise e até à nossa atualidade.


Joana Matos
Concurso EUStory 2021 - XIV Edição

Powered by Webnode
Create your website for free! This website was made with Webnode. Create your own for free today! Get started