SAÚDE MENTAL.

| O Aumento dos Óbitos por Suicídio durante a Crise.


   Quando estudando uma crise, não podemos ficar pelas medidas que os Governos tomam ou o desempenho da economia. Este é um assunto sério. É necessário aprofundar a investigação e verificar qual o verdadeiro impacto de tais dados. Assim, a vertente social é uma imprescindível durante esta análise. Uns conseguem lucrar com a crise, outros aguentam e, como veremos, uma pequena porção de pessoas não sobrevive.

   Os problemas de saúde mental têm se vindo a tornar numa temática cada vez mais preocupante ao longo dos anos, registando-se o seu aumento pelo Mundo, com Portugal a não escapar à situação. O mal-estar da saúde mental está diretamente correlacionado com o aumento de uma porção dos casos de morte, sendo que, durante períodos de recessão económica, existe, infelizmente, uma maior tendência para o aumento no número de óbitos por suicídio.

   Estudos sociológicos concluem que a incidência de casos de suícidio está intimamente associado a indicadores socioeconómicos. Fatores como o desemprego, baixa renda, alteração súbita de uma classes social mais alta para uma mais baixa estão na origem deste problema. Perante estas dificuldades, o indivíduo sente não ter mais lugar na sociedade, resultando na perda de uma vida humana (1).

   Em Portugal, a evolução da taxa de suicídio no período de 2007 a 2014 iniciou-se com uma tendência crescente, que se agravou a partir do ano de 2010, verificando-se um pico em 2014. Este crescimento coincide com o desenvolvimento da crise económica portuguesa.

Tabela 1 - Indicadores de mortalidade relativos ao suicídio em Portugal Continental, entre 2007 e 2014. Fonte: Instituto Nacional de Estatística (Instituto Nacional de Estatística (INE). Estatísticas demográficas - taxa de mortalidade padronizada. Lisboa: INE; 2015).
Tabela 1 - Indicadores de mortalidade relativos ao suicídio em Portugal Continental, entre 2007 e 2014. Fonte: Instituto Nacional de Estatística (Instituto Nacional de Estatística (INE). Estatísticas demográficas - taxa de mortalidade padronizada. Lisboa: INE; 2015).

   O número de óbitos na população portuguesa por suicídio cresceu cerca de 21,2% entre 2007 e 2014, aumentando a taxa bruta de mortalidade por suicídio de 9,5/100.000 habitantes para 11,7/100.000 habitantes. O ponto de viragem deu-se em 2010, quando o número chega à casa dos milhares pela primeira vez, sendo que foi precisamente neste ano que mais se começaram a sentir os efeitos da crise. Esses anos estão associados à conjuntura nacional da crise económico-financeira, marcada por baixo rendimento das famílias, desemprego, austeridade e perda do poder de compra (2).


(1) Robert SA (1999). Socioeconomic position and Health: The Independent Contribution of Community Socioeconomic Context. Annual Review of Sociology, 489-501.

(2) Nunes, Alexandre Morais (2018). Suicídio em Portugal: Um Retrato do País. Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online]. V. 67, n.1, pp. 25-33. 

Joana Matos
Concurso EUStory 2021 - XIV Edição

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